segunda-feira, setembro 22, 2008

Ostara, Perséfone e uma receita de flan de Jasmim

A primavera começa hoje, às 12:44 desta tarde. É o equinócio de primavera, quando o Sol está diretamente acima do equador, fazendo com que a noite o dia tenham duração igual. Na tradição pagã, o primeiro dia da primavera é Ostara, um Sabbat que simboliza o equilíbrio, momento de união entre a deusa Lua e o deus Sol. Deste dia em diante o dia dominará a noite, ou seja, os dias serão maiores que as noites. Os antigos pagãos costumavam acender fogueiras na noite de Ostara, para que o brilho do fogo trouxesse a fertilidade para a Terra e a segurança para seus lares, iluminando o caminho para que o Sol pudesse retornar à Terra.

O mito de Perséfone e a orígem da Primavera


Quem conta esta história é Homero, no século VII A.C.

Em um tempo muito antigo, era sempre Primavera. deméter, a deusa da fecundidade dos campos, passava o ano todo a cobrir a terra de verduras, flores e frutos. Os campos eram sempre verdejantes e as flores nunca murchavam. deméter era uma das esposas de Zeus, pai de todos os deuses e, com ele, tinha uma filha chamada Core. A jovem costumava brincar com as outras ninfas nos campos floridos. Um dia, atraída pelo perfume do narciso, Core afasta-se das companheiras e debruça- se para colher um botão que floria na borda de um penhasco. Nesse momento a terra se abre e surge da fenda o deus da morte e do mundo subterrâneo, Hades, que a carrega, apesar de seus gritos, em seu carro puxado por "imortais cavalos", para Hades, seu reino. Perséfone grita pedindo a Zeus que a salve, sem suspeitar que o rapto tinha sido tramado por ele mesmo e por Hades, seu irmão. Do fundo de sua gruta, Hécate, deusa da sombra e da tênue luz da lua, nada vê, mas ouve o grito de Core.

Durante 9 dias, deméter procura por sua filha, em vão. Na aurora do décimo dia, Hécate vem a seu encontro e diz à deusa inconsolável que sabia que sua filha tinha sido raptada mas não sabia por quem. Juntas, vão perguntar ao Sol, o deus Hélio, que tudo vê no seu curso pelo céu. O deus resplandecente conta que Perséfone tinha sido dada por Zeus a Hades para ser sua esposa e rainha do reino dos mortos, e volta para as alturas no seu carro de luz, deixando imersa em escuro desespero a deusa Deméter.

No mundo subterrâneio, Core recebe o nome de Perséfone.

Deméter abandona o Olimpo e vai para a cidade dos homens. Em toda a Terra, os campos secam e as plantas começam a murchar. As sementes não brotam mais. Zeus percebe que os homens estão perecendo pela fome e que, deste modo, não haverá mais oferendas e sacrifícios para os deuses. Os outros deuses vêm, então, suplicar à Deméter que volte ao Olimpo e cubra a Terra de fertilidade novamente. Mas ela declara que nenhuma semente brotará enquanto não lhe for devolvida Perséfone.

Finalmente, Zeus envia Hermes, o mensageiro, filho de Maia, ao Hades para pedir ao senhor dos mortos que concorde em ceder a esposa à sua mãe.

Hades dá seu consentimento; Core, exultante, prepara-se para partir. Na despedida, o marido pede-lhe que coma com ele alguns gomos de romã. Depois de compartilharem a fruta, Perséfone salta no carro dourado de Hermes e, "puxados por cavalos de longas asas" atravessam os mares, os picos das montanhas, e chegam ao bosque perto do templo. Mãe e filha correm em direção uma a outra e abraçam-se numa alegria sem limites. Subitamente, Deméter suspeita de um embuste e pergunta à filha se tinha comido alguma coisa enquanto estava no mundo subterrâneo. Perséfone lembra-se de ter partilhado a romã com o marido, e sua mãe sabe então que só a terá de volta por dois terços do ano. Um terço a filha terá que passar com Hades no reino dos mortos. Por isso durante uma terça parte do ano tudo seca e morre na natureza. E todos os anos, quando Core volta, tudo volta a brotar. Sua volta traz a primavera - sua mãe cobre a terra de flores.

Receita de Flan de Jasmim

Encontrei esta receita em um livro de Alain Ducasse, perfeita para a celebração da Primavera. É muito simples, uma variação perfumada do crème brullée, feita com chá de jasmim.

Ingredientes:

1 1/4 xícara de creme fresco
3 colheres, de sopa de leite
2 colheres, de sopa, de folhas de chá de jasmim (ou dois saquinhos)
1/2 xícara de açúcar
4 gemas de ovos grandes
1/3 de xícara de açúcar mascavo, peneirado

Preparo:

Misture o creme e leite em uma pequena panela e coloque no fogo até a fervura. Adicione o chá e remova do fogo. Cubra e deixe em infusão por 15 minutos.

Pré-aqueça o forno à temperatura baixa (150º C). Coloque 4 potes de sobremesa, reflatários, ou ramequins em uma assadeira. Reserve.

Bata o açúcar com as gemas até obter um creme espêsso amarelo-claro. Passe por uma peneira. Bata novamente, adicionando gradualmente o creme já perfumado pelo chá de jasmim. Coloque nos potes de sobremesa, enchendo-os até 3/4 de sua capacidade. Coloque a assadeira no forno e despeje água dentro dela, até a metade da altura dos potes. Asse por 40 a 45 minutos, até que os flans estejam firmes. Remova do forno e tire os potes da assadeira, deixando-os esfriar completamente.

Para servir, polvilhe açúcar mascavo sobre os flans e leve ao grill do forno por alguns minutos até que o açúcar derreta. Deixe esfriar por um minuto, decore com pequenas flores frescas e sirva.

(Imagem: "O Retorno de Perséfone" por Lord Frederic Leighton, 1891)

2 commentários:

f@ disse...

Acender essa fogueira na noite de Ostara, deve ter um tal sabor… manjar dos Deuses com o Flan de Jas mim
Lindo esse mito…
Primavera em flor...
Beijinho das nuvens

Oliver Pickwick disse...

Estes deuses gregos são menos confiáveis que os nossos políticos. O próprio Zeus, não era flor que se cheire. Aliás, acho que era o pior de todos eles.
No filme Tróia, uma adaptação meio-chutada - por sinal, uma marca de Hollywood - das histórias de Homero, tem uma frase significativa dita por Aquiles para Briseida, a jovem sacerdotisa do templo de Apolo: "na verdade, os deuses invejam a nossa mortalidade. O acaso, o imprevisto".
Quanto aos flans, não aprecio muito. Sou meio-tabaréu para doces, gosto dos tradicionais: ambrosia, doce de coco, de banana, e aquele manjado pudim de leite. Mas, de tanto ler as suas receitas, quem sabe, um dia não fico um pouco mais ateniense? Pero sin perder el espíritu de Sparta jamás.
Adoro a sua cozinha-mais-que-cozinha.
Um beijo!